sexta-feira, 26 de junho de 2009

Coisa Séria

Hoje caiu a minha árvore, a que ficava na calçada. Ela sempre foi pequena e eu sempre gostei dela; quando cheguei em casa ela era um tronco e muitos galhos, bloqueando a minha garagem. Saindo do buraco, na ponta do tronco, um toco praticamente sem raízes – podre. A prefeitura leva sete dias pra remover. Arrastamos o tronco caído até a calçada vizinha, sem garagem, pra podermos guardar os carros, etc. Galhos foram arrancados pra liberar a passagem de pedestres. Ela era bonita, do seu jeito, e continuava bonita deitada no concreto, meio morta, a madeira esculpida pelos seus próprios nós característicos. Lembrava uma escultura, ou até um nu artístico. Saí correndo pro cinema, voltei só de madrugada e o tronco já não estava mais lá, sumiu sabe-se lá como. É engraçado isso, a falta de uma árvore como aquela. A sensação é quase como a da morte de alguma pessoa, eu acho. Essa ausência, esse buraco que não vai mais voltar ao normal. Foram doze anos, eu e a árvore, de reconhecimento mútuo e silêncio; agora acabou e eu nem me despedi. De tudo aquilo, de todas as brigas com moleques e pipas e pedradas em ninhos de passarinho, de todos os ninhos e tudo o mais, ficou um pedaço de galho e um ramo fino com um emaranhado de grama, ex-ninho ou ensaio de um, sei lá. Vou sentir falta daquela presença quieta que me recebia antes de qualquer um quando eu chegava em casa, que me dizia só em existir ali, desde tão sempre, que eu tinha chegado em casa de verdade.

Muito mais do que do Michael Jackson.

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